A beira da cidade: espaços planejados, espaços apropriados em um loteamento da zona oeste carioca
Com base em uma etnografia conduzida entre moradores do loteamento chamado Jardim Maravilha (Guaratiba), o maior “loteamento irregular” do Rio de Janeiro, e na análise de normas e documentos urbanísticos, a nossa tese propõe explorar as tensões entre o “planejado” e o “apropriado” (Lefebvre) na produção de um espaço periférico. A primeira parte da nossa tese faz toda uma “genealogia” (Foucault) do “loteamento proletário”, esta forma de loteamento surgida nos anos trinta e que exerceu uma influência determinante sobre a urbanização da antiga zona rural em particular e dos subúrbios cariocas em geral. Apontamos para um dilema essencial entre planejar e excepcionar no modo como a ocupação da “frente de expansão” urbana se deu no Rio. Em seguinte, analisamos como as tensões repercutem nas representações do loteamento, através da oposição entre campo e cidade, assim como as práticas de autoconstrução, ressaltando a complexidade dos processos envolvidos na produção material e simbólica da casa, em particular o papel do lote na configuração desses processos. Enfim, exploramos a tensão entre o ato (de apropriação) e o contrato no modo como se organizam as “relações de propriedade” (Hann) dentro do loteamento. Esperamos assim contribuir para a compreensão de uma tensão fundamental no “governo” das populações pobres em uma metrópole como o Rio de Janeiro.