Nou pran wout la : as dinamicas da mobilidade e das redes haitianas
Desde mais de um século, os haitianos estão tentando chegar aos Estados Unidos, destino favorito, para escapar dos problemas econômicos e políticos. Mas esta migração se intensificou e se tornou mais complexe pela recessão económica para os haitianos que vivem no Brasil no final de 2015, criando assim uma nova rota, a "wout Miami", uma expressão usada pelos haitianos para dizer que uma pessoa se engajou na rota para chegar aos Estados Unidos através dos diferentes países da América do Sul e Central, uma aventura durante a qual as pessoas vão enfrentar jogos práticos entre o legal e o ilegal. Mas pouco a pouco, o termo desapareceu em favor de "li/nou pran wout la" (alguém pegou a rota, em crioulo haitiano) para indicar a pessoa que deixou o Brasil e pegou a rota dos Estados Unidos.
O objeto da pesquisa é tratar a "wout Miami" como uma janela para entender mais finamente as configurações e as dinâmicas da mobilidade e das redes haitianas. Para isso, é necessário considerar diferentes perguntas: qual é a natureza das relações entre as pessoas que saiam, aquelas que permanecem e aquelas que estão se movendo, as envolvidas de uma maneira direta ou indireta para que estes movimentos podem ocorrer, como os indivíduos e as agências se encaixam e se articulam em redes, quais são os elementos que podem afetar as redes e de que forma, qual é o lugar das emoções, mas também o legal e a política na construção ou a destruição das redes.
Baseado num estudo etnográfico, o projeto de pesquisa diálogo principalmente com a antropologia da família e dos relacionamentos [1] questionando 1) a dinâmica entre a experiência dos indivíduos e das configurações das redes onde eles se encaixam (as relações entre as pessoas, emoções e afetos, "configurações das casas" [2], a amizade, o coletivo do qual os indivíduos pertencem, as diferentes formas materiais e subjetivas de investimento por parte dos indivíduos na alimentação das redes e da mobilidade), mas também 2) com a antropologia da lei, da legalidade e do governo [3], onde a experiência legal (documentos, leis e regulamentos do governo ou das agências internacionais, políticas públicas, as formas ambíguas em torno da figura do "raketè" [4]) esta vivida a cada vez que as pessoas cruzam a fronteira, chegam em um novo país e conhecem novas populações, e assim, 3) participar também das discussões sobre a antropologia do movimento, da mobilidade e das migrações. [5]