A caixa-preta do estupro”: governando homens, produzindo territórios existenciais.
Esta tese é o resultado de uma etnografia realizada “junto” a homens sentenciados por estupro ou estupro de vulnerável, que cumprem pena ou medida de segurança, bem como em “proximidade” às famílias e amigos desses sujeitos e diversos especialistas (psicólogos, profissionais do serviço social, psiquiatras, estagiários, etc.) vinculados à administração estatal (presídios, manicômio judiciários, defensoria pública, etc.) O objetivo mais amplo é o de compreender os modos de governar homens, desejos, violências, gêneros, sentimentos e tecidos relacionais. As tramas políticas e afetivas desenhadas a partir da tensa relação entre as narrativas de injustiça proferidas por tais sujeitos e a “cultura do estupro” são objeto de análise. Essas narrativas dizem também sobre o lugar que ocupa estupro e o estuprador nas unidades prisionais, precisamente no universo do “Povo de Israel”. Interessa, ainda, compreender os limites e as possibilidades de afirmação de preceitos democráticos e/ou antimanicomiais no horizonte da disseminação do medo e do nojo da figura do estuprador, mobilizada publicamente a partir de “rostos” delimitáveis. Se busco caracterizar o território existencial cristalizado pela marca 213/214 é porque caminho por este território buscando pensá-lo em consonância ou contraposição à práticas e discursos políticos e/ou estatais.