Quem são os outros? Uma etnografia dos trânsitos e práticas das mulheres mbyá no centro de Porto Alegre.
Os Mbyá, que no Brasil somam cerca de 7 mil indivíduos (Dados do ISA- Funasa 2008), são notórios pelos deslocamentos constitutivos de sua concepção de “bem viver”. A grande maioria dos cerca de dois mil guaranis fixados atualmente no Rio Grande do Sul são falantes do dialeto Mbyá, dentre os quais cerca de 300 residem em aldeias situadas na capital gaúcha. O interesse pelos Mbyá do Rio Grande do Sul incide especialmente sobre a variedade de problemas e soluções indígenas suscitados pelo “contato” de longa data com os não-indígenas no estado. Nas calçadas do centro da capital gaúcha a presença Mbyá, sobretudo de mulheres e crianças, é facilmente identificável: sentados sobre panos onde se encontram, geralmente, plantas e artesanatos à venda e uma cestinha solitária a espera de moedas. Essa prática/presença que meus interlocutores chamam de porarõ [po – mão ; -arõ – esperar] vem se mostrando incômoda a alguns órgãos governamentais como Conselho Tutelar e mesmo a Brigada Militar (Otero, 2006). A suspeita de exploração infantil que recai ainda hoje sobre as mulheres Mbyá na cidade provocou, num passado não muito distante, controversas medidas por parte dos referidos agentes. Daí a relevância de um estudo antropológico sobre fenômeno em questão.