"Alguns tanzanianos são mais indígenas do que outros? Reivindicações de indigeneidade, controvérsias e múltiplas escalas na Tanzânia contemporânea."
Este trabalho de tese para doutoramento se concentra nos debates sobre a etnicidade na República Unida da Tanzânia (África Oriental) que se manifestam através da discussão sobre a indigeneidade e do ativismo que reivindica direitos especiais aos povos pastoralistas e caçadores-coletores tanzanianos. Neste contexto, os principais atores, líderes deste “movimento indígena”, são os advogados maasai (e outros Maasai com alto nível de escolarização). A partir do trabalho de campo etnográfico, essa pesquisa deposita seu foco nestes atores: seus discursos, suas narrativas e trajetórias de vida. Entretanto, a fim de compreender mais amplamente a complexidade das configurações políticas e das disputas relacionadas à etnicidade, procuro fazer também incursões a algumas vilas de pastoralistas e caçadores-coletores, bem como ouvir funcionários do governo e tanzanianos que trabalham em ONGs voltadas à defesa dos direitos humanos, analisando, assim, as diferentes moralidades e categorias étnicas empregadas por esses atores. Em um contexto onde há uma diversidade étnica expressiva, e uma história marcada por intensos fluxos imigratórios e experiências de colonização, a indigeneidade não é uma categoria recente em disputa na Tanzânia, mas as contradições entre diferentes acepções sobre o que é ser indígena no continente africano atribuem novos contornos à discussão, sobretudo a partir das definições internacionais para a indigeneidade.